COMISSÃO DE REVISÃO HISTÓRICA DE DOURADOS
segunda-feira, 11 de agosto de 2014
sábado, 9 de agosto de 2014
DOURADOS IDENTIDADES CULTURAIS
Pelos estudos acadêmicos realizados,
artigos e livros publicados até o tempo presente, conforme as fontes aqui
citadas, tudo indica que foi no final do século XIX e início do século XX que
começam os contornos do pequeno povoado que daria origem à cidade de Dourados.
Habitadas por múltiplos povos, como os
terena, guarani, kaiowá, paraguaios,
italianos, japoneses, portugueses,
árabes, italianos, alemães, afrobrasileiros, paulistas, paranaenses, mineiros, gaúchos,
nordestinos (pernambucanos, baianos, cearenses, sergipanos, alagoanos,
paraibanos, maranhenses, piauienses, potiguarenses), catarinenses, mato-grossenses,
sul-mato-grossenses, entre outros, cada qual representado com a sua cultura de
origem.
As contribuições culturais indígenas somaram-se à
paraguaia, platina, andina,
asiática, européia, do oriente
médio e brasileira, que, em si, reúne a pluralidade. A cidade de Dourados desde sua
fundação oficial e com a implantação das colônias agrícolas, sempre recebeu
pessoas de culturas diversificadas, nesse sentido, a cidade sucessivamente foi um espaço da cultura interdisciplinar, multidisciplinar e transdiciplinar. E isto, faz com que a cidade apresente múltiplas
identidades, multifacetada, heterogênea e fronteiriça. Dourados é cidade de todos os povos e de todas as cores.
Nesta análise, pontuamos algumas considerações sobre o poder
simbólico oficial de Dourados, realizadas por pesquisadores, intelectuais,
historiadores e memorialistas, que tratam desta temática, construídos em
múltiplos olhares, desempenhados cotidianamente por diversos artistas,
escritores e pesquisadores.
Almejamos que esta análise, possa instigar ou contribuir para
debates acerca do patrimônio cultural da Grande
Dourados. Reelaborar novos ícones de pertencimento coletivo da memória em
conceitos do politicamente correto, reescrever a história incluindo todos os
povos, que fazem da cidade este “caldo cultural” multicultural e colorido.
BRASÃO OFICIAL DE DOURADOS: saiba mais
O Brasão oficial de Dourados tem em letras maiúsculas que Dourados é terra de Antônio João.
No caso
especifico de Dourados, os símbolos que compõem as armas municipais são o
brasão, a bandeira e o hino.
O brasão de armas foi apresentado
em forma de projeto pelo vereador Walter Brandão da Silva, os croquis aprovado
pela Câmara Municipal de Dourados e assinado pelo prefeito João da Câmara
(1967-1970) em 30 de dezembro de 1970, ou seja, na véspera de deixar o cargo ao
prefeito eleito, Jorge Antônio Salomão (1970-1973). É aprovada a Lei n.º 743,
que criava oficialmente o brasão de armas municipal.
É importante destacar que um brasão não é
definido apenas visualmente, mas antes pela sua descrição escrita, a qual é
dada uma interpretação própria, feita pela imagem que representa, em forma de desenhos
especiais, por meio de sinais, histórias, cores, adornos, poder, identidade e
silêncios.
Conforme
a lei 743/70, o Brasão Oficial de Dourados[1]
tem os seguintes significados:
No
Brasão, aparecem em primeiro plano, duas lâminas chamadas "aiveca" e ramos de arroz. A aiveca da
direita simboliza o colono, a da esquerda, a agricultura e os ramos de
arroz são o sinal convencional de toda a espécie de lavoura do município.
O
livro simboliza o registro dos grandes feitos históricos, como por, exemplo, o
héroi, “Antonio João Ribeiro” e o “colono”.
As
páginas brancas refletem a pureza, a cultura e a dignidade do povo douradense.
No centro está uma linha horizontal sem nenhum relevo, representando a situação geográfica de Dourados
no planalto.
Ao alto, acha-se uma chaminé que simboliza o futuro e o
progresso de Dourados; abaixo no
Brasão, lemos: "Dourados - 20 de dezembro de
1935", o nome da cidade e a data de sua fundação, entre estes, encontramos onze traços que simbolizam os distritos e no centro do Brasão encontramos um traço que significa a sede do
município.
A cor
Amarela simboliza a riqueza do solo, a cor Azul a grandeza do municipio.
Acima,
a coroa heráldica mostrando o mural do município.
Abaixo,
uma faixa de ostentação do Brasão com o seguinte: “TERRA
DE ANTÔNIO JOÃO" em homenagem ao herói brasileiro da Guerra do Paraguai.
(GRESSLER
& SWENSSON, 1988, p. 121-123).
O desenho do brasão representa as
características históricas, culturais e sociais do município. O brasão tem
significações especificas, em formato de desenhos e cores, para se
diferenciarem e se distinguirem. Ou seja, o brasão é uma “marca”, um “sinal”,
uma “logomarca”, uma “representação oficial” da cidade de Dourados como um todo.
O brasão oficial de Dourados pode também ser empregado
sobre outros suportes, como bandeiras, vestuário (camisetas escolares,
uniformes de jogos, material escolar, entre outros), elementos arquitetônicos,
mobiliário, objetos pessoais, carros oficiais e em serviços, papel timbrado, ou
melhor, em todas as atividades oficiais do município o brasão tem que estar
presente.
O Brasão de Armas ou, simplesmente, Brasão, origina-se da tradição europeia medieval e no Brasil, o Brasão de
Armas é utilizada desde a época Imperial até o tempo presente. A palavra Brasão
vem do alemão blasem, que significa tocar
buzina, já que era ao seu toque, que os cavaleiros medievais se lançavam ao
combate. Daí o legado dos brasões oficiais brasileiros em forma de escudos
medievais nos desenhos.
Imagem acima em forma de
escudo.
O brasão de Dourados traduz
a tradição européia,
pois o seu desenho
principal apresenta
um escudo de formato
medieval
Atualmente no
Brasil, o brasão é um desenho especificamente criado – obedecendo o formato da
lei da heráldica[1] - com a finalidade de identificar
Munícipios, Estados, e muitas vezes, famílias, clãs, corporações e empresas.
Em 08 de maio de 1810, tem como data o
estabelecimento oficial de uma heráldica brasileira, em que foi criado no Rio
de Janeiro, a “Nobre Corporação dos Reis de Armas”,
vinculada a Corporação de Armas da Casa Imperial.[2] Para o
Rei poder expedir aos “nobres”, os “símbolos de distinção e de prestígio”. Segundo
a pesquisadora Lilia Moritz Schwarcz, no Brasil a figura no nobre tornou-se um
adorno dos reis, um crédito, especial da monarquia, que efetivou certos
elementos diferentes dos demais. Nobre quer dizer: “conhecido”, “notável”,
“ilustre”, “célebre”. Na época da
monarquia o poder simbólico era fortemente pautado em uma agenda de festas,
rituais e imagens. A monarquia brasileira utilizou das representações
simbólicas de longa duração, associando o soberano à idéia de justiça, ordem,
paz e equilíbrio. O brasão de cada nobre era registrado na Casa Imperial e
pagava-se muito caro[3]. Para
evitar plágios, cada brasão continha especificidades criadas por especialistas
da heráldica.
O brasão, desde o
período monárquico, até os nossos dias, continua como símbolo imprescindível do
poder constituído.
É importante realçar que a imagem do brasão é
constituída de significados, não é apenas pela imagem, mas por um código, para
se tornarem compreensíveis dentro duma dada comunidade, a totalidade das
relações entre significantes e significados. Desta forma, cada comunidade
desenvolve os seus sistemas de signos e respectivos códigos, para poder
viabilizar a comunicação entre os seus membros.
Os códigos são explicados por meio do croqui
aprovado pela Câmara Municipal e instituído em forma de Lei. A definição do memorial
descritivo, segundo publicados em livros e trabalhos acadêmicos definem assim:
As analises acerca do brasão oficial de
Dourados realizada por Mercolis Alexandre Ernandes em sua dissertação de
mestrado, “A construção da Identidade Douradense (1920 a 1990)”, defendida em
2009 na UFGD, mostra todo o aparato que é montado para representar as
identidades oficiais de Dourados durante o século XX.
De acordo com estudos realizados por Mercolis
Alexandre Ernandes, o brasão é relativamente simples, nas cores, “azul e
amarelo que traz elementos que simbolizam a eternidade dos componentes originais
da cidade”. (ERNANDES, 2009,
p. 88). Para Ernandes “O colono contemplado pelo
brasão é o mesmo homenageado com a estátua na praça central, ou seja, o homem
trabalhador que ocupou o território à mercê da sorte”. (Id. p. 88).
O historiador Ernandes chama a atenção de que só
o tenente Antônio João é lembrado no
brasão oficial de Dourados. “O tenente era motivo de orgulho para a nação, e
mais orgulho ainda para as munícipes, que agora ocupavam o solo defendido por
ele, sendo preciso estar sempre a zelar pelo pedaço de chão conquistado”. (ERNANDES, 2009, p. 89).
Nesse período, início dos anos setenta,
governo militar (ditadura), “AI-5”, o herói mereceu destaque especial no brasão
como o maior representante de Dourados, pois bravura, heroísmo, nacionalismo, valentia,
patriotismo, eram ícones defendidos por parte de intelectuais moradores em
Dourados.
O livro aberto simboliza que o passado foi reunido, que uma parte
da história foi escrita, a história da “nova canaan”. A página que é
apresentada está em branco, anunciando que ainda faltam textos, histórias a
serem escritas, e todos são convocados a escrever e contribuir para o progresso
e civilização do município. Sugere, também, que há espaço para que novas
histórias sejam narradas no mesmo ritmo da “marcha vertiginosa para o
progresso”. O branco, por sua vez, comporta o que é puro, culto e digno. (ERNANDES, 2009, p. 89).
Para Ernandes no conjunto de elementos, cores
e significações do brasão “há a intenção clara de disponibilizar para à
população meios de se sentir pertencida” (ERNANDES, 2009, p. 89). Nesse sentido, é importante poder
analisar os detalhes de como é composta as significações do brasão de Dourados,
suas representações, suas marcas, suas intenções e seus silêncios.
As outras categorias são amplas e tentam abarcar de modo
abrangente a população: o colono é o indivíduo que abriu a mata, aldeou os
índios, cultivou a terra, e ajudou a construir a cidade. Os “demais imigrantes”
devem se sentir pertencidos a terra por um livro aberto com páginas em branco,
estando por conta de eles inserirem sua participação na história municipal. (ERNANDES, 2009, p. 89).
Mercolis Alexandre Ernandes apresenta uma analise
convincente e conveniente sobre os símbolos que representam a cidade de
Dourados, embasados em fontes seguras, com suportes e conceitos metodológicos
que trazem debates interessantes e reflexivos sobre a construção das
identidades douradenses. Ernandes afirma que “a construção polifônica
para a qual contribuíram os discursos da imprensa e da Igreja Católica, dos
memorialistas e do governo municipal, dos monumentos públicos e dos símbolos
oficiais”. (ERNANDES, 2009,
p. 06). Por isso, os símbolos que representam a cidade de Dourados
são carregados de insígnias, criadas por intelectuais, artistas, pesquisadores,
por meio de lideranças, personalidades, políticos, que representavam ao anseio
de uma parcela influente da elite douradense.
Os símbolos que compõem as armas municipais corroboram o discurso homogeneizador.
Brasão, Hino e Bandeira, foram criados, na década de 1970, para representar uma
cidade pacífica, próspera, hospitaleira, rica e ordeira. Eles são
representações de uma realidade almejada e foram divulgados amplamente nas
escolas, nas cerimônias oficiais, em datas comemorativas ou eventos cívicos.
Assim como a história oficializada, estes símbolos não se referem às diferenças
tradições que existem em Dourados, o objetivo deles é fortalecer a coesão
social. (ERNANDES, 2009, p, 114).
As analises ponderadas por Ernades desde os
anos de 1920 até os anos de 1990 do século XX, em que o historiador faz uma
reflexão sobre as construções das identidades douradenses neste período em que
debate pontos importantes divulgados por meios dos jornais, dos memorialistas, dos
monumentos, das igrejas (católica e protestante), documentos, vídeos.
Dourados ao longo dos anos do século XX
procurou um rosto, uma cara, uma fisionomia própria, peculiar, diferente, que
acrescente todos os povos. Deste modo, oficialmente, divulga-se uma cidade
pacífica, serena, labutadora, progressista e moderna.
Por meio da criação de mitos fundadores, heróis,
símbolos oficiais e monumentos, datas e fatos importantes a serem celebrados,
procurou-se administrar a multiculturalidade com o discurso de uma sociedade
ordeira, trabalhadora, feliz e hospitaleira. Para tal foi necessário criar
laços de solidariedade a fim de homogeneizar as diferenças e representar
Dourados, como uma terra sem conflitos, repleta de oportunidades e sentinela da
brasilidade, a terra de todos os povos.
Na visão da historiadora Camila
Cremonese-Adamo O brasão tem detalhes mais sofisticados, “está
confeccionado nos moldes de melhor interpretação, na fácil confecção de clichês
em cores e preto-branco, e a fácil reprodução mesmo por alunos do
primário”. (CREMONESE-ADMAO, 2010, p. 145). Mas o que realmente seduziu a atenção da historiadora foi à frase “TERRA
DE ANTÔNIO JOÃO” escrito em letras maiúsculas e em destaque absoluto.
Mas o que realmente chama a
atenção é a existência de uma faixa abaixo do desenho do brasão, com
o dístico: Terra de Antônio João. A afirmação é significativa, pois não
deixa margem para dúvidas; Dourados é a terra de Antônio João. No
parágrafo que explica a faixa, temos o argumento de que se trata de uma
“homenagem ao defensor deste solo” (cf. Memorial descritivo, 1970). Já
nesse momento era suficientemente popularizada a idéia de que o Tenente Antônio
João era uma figura presente e pertencente à realidade douradense. (CREMONESE-ADMAO, 2010, p. 145, grifos meus). As analises acerca do brasão oficial de
Dourados realizada por Mercolis Alexandre Ernandes em sua dissertação de
mestrado, “A construção da Identidade Douradense (1920 a 1990)”, defendida em
2009 na UFGD, mostra todo o aparato que é montado para representar as
identidades oficiais de Dourados durante o século XX.
De acordo com estudos realizados por Mercolis
Alexandre Ernandes, o brasão é relativamente simples, nas cores, “azul e
amarelo que traz elementos que simbolizam a eternidade dos componentes originais
da cidade”. (ERNANDES, 2009,
p. 88). Para Ernandes “O colono contemplado pelo
brasão é o mesmo homenageado com a estátua na praça central, ou seja, o homem
trabalhador que ocupou o território à mercê da sorte”. (Id. p. 88).
O historiador Ernandes chama a atenção de que só
o tenente Antônio João é lembrado no
brasão oficial de Dourados. “O tenente era motivo de orgulho para a nação, e
mais orgulho ainda para as munícipes, que agora ocupavam o solo defendido por
ele, sendo preciso estar sempre a zelar pelo pedaço de chão conquistado”. (ERNANDES, 2009, p. 89).
Nesse período, início dos anos setenta,
governo militar (ditadura), “AI-5”, o herói mereceu destaque especial no brasão
como o maior representante de Dourados, pois bravura, heroísmo, nacionalismo, valentia,
patriotismo, eram ícones defendidos por parte de intelectuais moradores em
Dourados.
O livro aberto simboliza que o passado foi reunido, que uma parte
da história foi escrita, a história da “nova canaan”. A página que é
apresentada está em branco, anunciando que ainda faltam textos, histórias a
serem escritas, e todos são convocados a escrever e contribuir para o progresso
e civilização do município. Sugere, também, que há espaço para que novas
histórias sejam narradas no mesmo ritmo da “marcha vertiginosa para o
progresso”. O branco, por sua vez, comporta o que é puro, culto e digno. (ERNANDES, 2009, p. 89).
Para Ernandes no conjunto de elementos, cores
e significações do brasão “há a intenção clara de disponibilizar para à
população meios de se sentir pertencida” (ERNANDES, 2009, p. 89). Nesse sentido, é importante poder
analisar os detalhes de como é composta as significações do brasão de Dourados,
suas representações, suas marcas, suas intenções e seus silêncios.
As outras categorias são amplas e tentam abarcar de modo
abrangente a população: o colono é o indivíduo que abriu a mata, aldeou os
índios, cultivou a terra, e ajudou a construir a cidade. Os “demais imigrantes”
devem se sentir pertencidos a terra por um livro aberto com páginas em branco,
estando por conta de eles inserirem sua participação na história municipal. (ERNANDES, 2009, p. 89).
Mercolis Alexandre Ernandes apresenta uma analise
convincente e conveniente sobre os símbolos que representam a cidade de
Dourados, embasados em fontes seguras, com suportes e conceitos metodológicos
que trazem debates interessantes e reflexivos sobre a construção das
identidades douradenses. Ernandes afirma que “a construção polifônica
para a qual contribuíram os discursos da imprensa e da Igreja Católica, dos
memorialistas e do governo municipal, dos monumentos públicos e dos símbolos
oficiais”. (ERNANDES, 2009,
p. 06). Por isso, os símbolos que representam a cidade de Dourados
são carregados de insígnias, criadas por intelectuais, artistas, pesquisadores,
por meio de lideranças, personalidades, políticos, que representavam ao anseio
de uma parcela influente da elite douradense.
Os símbolos que compõem as armas municipais corroboram o discurso homogeneizador.
Brasão, Hino e Bandeira, foram criados, na década de 1970, para representar uma
cidade pacífica, próspera, hospitaleira, rica e ordeira. Eles são
representações de uma realidade almejada e foram divulgados amplamente nas
escolas, nas cerimônias oficiais, em datas comemorativas ou eventos cívicos.
Assim como a história oficializada, estes símbolos não se referem às diferenças
tradições que existem em Dourados, o objetivo deles é fortalecer a coesão
social. (ERNANDES, 2009, p, 114).
As analises ponderadas por Ernades desde os
anos de 1920 até os anos de 1990 do século XX, em que o historiador faz uma
reflexão sobre as construções das identidades douradenses neste período em que
debate pontos importantes divulgados por meios dos jornais, dos memorialistas, dos
monumentos, das igrejas (católica e protestante), documentos, vídeos.
Dourados ao longo dos anos do século XX
procurou um rosto, uma cara, uma fisionomia própria, peculiar, diferente, que
acrescente todos os povos. Deste modo, oficialmente, divulga-se uma cidade
pacífica, serena, labutadora, progressista e moderna.
Por meio da criação de mitos fundadores, heróis,
símbolos oficiais e monumentos, datas e fatos importantes a serem celebrados,
procurou-se administrar a multiculturalidade com o discurso de uma sociedade
ordeira, trabalhadora, feliz e hospitaleira. Para tal foi necessário criar
laços de solidariedade a fim de homogeneizar as diferenças e representar
Dourados, como uma terra sem conflitos, repleta de oportunidades e sentinela da
brasilidade, a terra de todos os povos.
Na visão da historiadora Camila
Cremonese-Adamo O brasão tem detalhes mais sofisticados, “está
confeccionado nos moldes de melhor interpretação, na fácil confecção de clichês
em cores e preto-branco, e a fácil reprodução mesmo por alunos do
primário”. (CREMONESE-ADMAO, 2010, p. 145). Mas o que realmente seduziu a atenção da historiadora foi à frase “TERRA
DE ANTÔNIO JOÃO” escrito em letras maiúsculas e em destaque absoluto.
Mas o que realmente chama a
atenção é a existência de uma faixa abaixo do desenho do brasão, com
o dístico: Terra de Antônio João. A afirmação é significativa, pois não
deixa margem para dúvidas; Dourados é a terra de Antônio João. No
parágrafo que explica a faixa, temos o argumento de que se trata de uma
“homenagem ao defensor deste solo” (cf. Memorial descritivo, 1970). Já
nesse momento era suficientemente popularizada a idéia de que o Tenente Antônio
João era uma figura presente e pertencente à realidade douradense. (CREMONESE-ADMAO, 2010, p. 145, grifos meus).
Nota-se, conforme as considerações e as
observações aqui apresentadas, de que o poder oficial do município, tem papel
fundamental na criação de uma imagem que associasse a figura do tenente Antônio
João Ribeiro com a cidade de Dourados.
“Terra de Antônio João”, por muito tempo, até
os anos noventa do século XX, parte da elite douradense entre intelectuais e
personalidades, elegeram o tenente Antônio João com sendo deste solo.
[1] Os
estudos sobre a arte e a utilização dos brasões, composição, uso e
interpretação é uma especialidade denominada "heráldica". A origem de
tal prática, foi instituído em Portugal no final do século XII, durante as
cruzadas, que essa simbologia ficou sujeita a regras fixas de composição,
ditadas e fiscalizadas pelo
poder real e por instuições a ele vinculadas. Data de 1183 o primeiro documento heráldico português: o
brasonário real de Afonso Henriques.
[2] De acordo com Lilia Schwarcz, a Nobre Corporação dos Reis de Armas — o
cartório da nobreza — foi instalada na corte do Rio de Janeiro em 1810, “dando
continuidade, em terras brasileiras, aos habituais procedimentos lusitanos para
a formalização das mercês de títulos e cartas de brasões. Eram encarregados do
serviço um rei de armas, um arauto, um passavante e um escrivão dos brasões da nobreza e fidalguia do Império”. (SCHWARCZ, 1998, p. 171).
[3] O escrivão da nobreza e fidalguia do
Império era encarregado de registrar em livros as concessões de títulos e
brasões. o pagamento de taxas para o
recebimento da carta de mercê nova, e seu respectivo registro em livro, era necessário para
completar a legalização dos trâmites. Da mesma forma, o direito ao uso
de brasões dependia de um acerto de contas, seguido de registro. “O
uso indevido de títulos, condecorações e brasões era assunto de polícia: dava
cadeia e multa. Em 1871, o crime foi qualificado de estelionato e punido como tal”. (SCHWARCZ, 1998, 171-172).
Nos últimos anos tem aflorado importantes
debates em relação às identidades
culturais douradenses nas comunidades universitárias, artísticas,
literárias e na imprensa de um modo geral. Que criam ícones sobre aspectos históricos
da formação da identidade da cidade.
Acendem também as pesquisas que retratam a
cidade de Dourados. Fontes como: dissertações, documentos oficiais, leis, atas
de associação, textos de jornais, monumentos, fotos, livros, artigos, museus,
centro de documentação.
Temos que ter a humildade de reconhecer o
“erro” histórico em afirmar que Antônio João e a Colônia Militar dos Dourados pertenciam
ao município de Dourados. O que não é verdade, pois é comprovadamente que a
Colônia Militar dos Dourados, atual Parque Histórico Colônia Militar dos
Dourados localiza-se em outro município que já tem como nome: Antônio João. Por
isso, é necessário abrir debates para discutir as identidades douradenses na
metodologia do multicultural, do fronteiriço, do tolerante e da inclusão. Não
podemos aceitar a ideia enganosa de adotar um herói que não nos pertence e se
apropriar do ícone “Terra de Antônio João” em que o “recordar”, o “rememorar”,
o “lembrar”, direciona a imagem como que se fosse do município de Dourados, o
que não é correto, já que temos o município com o próprio nome de Antonio João
e o momento em que o tenente foi morto na Colônia Militar dos Dourados, atual
Parque Histórico Colônia Militar dos Dourados, ambas pertencem ao município de
Antônio João-MS.
Por que a troca do brasão oficial de Dourados,
TERRA DE ANTÔNIO JOÃO por TERRA DE TODOS OS POVOS.
Não temos que ter heróis valentões, brutos, sanguinários,
assassinos. Como uma cidade que oferece cursos de pós-graduação em nível de
doutorado aceitar um erro histórico e geográfico. Os tempos são outros, temos
que desarmar as pessoas de armas de fogo e não incentivá-las, não podemos ficar
estimulando a violência para que todos andem armados. Temos que incentivar sim
a inteligência, aos estudos, cuidar da terra dadivosa, respeito ao próximo, ao
trabalho, ao lazer, a todos os povos que aqui residem, que faz do dia a dia ser
uma cidade progressista e generosa.
Apresentamos o
poder da Armas de Dourados, especificamente, o Brasão oficial da cidade de
Dourados-MS. Como foi instituído o brasão oficial de Dourados? O que significa
o brasão? O que representa o Brasão? Quais os problemas apresentados na reapresentação
e apresentação do Brasão oficial de Dourados? Um dos problemas da representação
do brasão que tem no dístico com letras maiúsculas escritas no Brasão: DOURADOS
TERRA DE ANTÔNIO JOÃO. Está comprovado que é um erro histórico e geográfico, já
que, Antônio João é um município do estado de Mato Grosso do Sul e localiza-se
aproximadamente a 130 quilômetros do município de Dourados.
A nossa proposta
para este debate é a troca da frase do dístico do brasão por DOURADOS TERRA DE
TODOS OS POVOS E DE TODAS AS CORES! E justificamos porque a cidade de Dourados
é habitada por paraguaios, gaúchos,
italianos, japoneses, portugueses, árabes, italianos, alemães, nordestinos
(pernambucanos, baianos, cearenses, sergipanos, alagoanos, paraibanos,
maranhenses, piauienses, potiguarenses), paulistas, paranaenses, mineiros, catarinenses, afrobrasileiros,
terena, guarani, kaiowá, mato-grossenses, sul-mato-grossenses, entre outros.
Contextualizamos o
porquê que Antônio João foi adotado como douradense nos anos de 1940-1970. A
homenagem na cidade de Dourados com o nome da principal praça e com uma
estatua, em monumentos, maçonaria, escola e no brasão.
Esperamos que este
tema possam fazer novas reflexões e novas abordagens sobre as identidades de
Dourados, com debates entre as entidades representativas do município com
debates calorosos e de ações para a valorização da memória e da cultura de
Dourados.
As análises conceituais aqui tratadas são para
entusiasmar e incentivar debates que colaborem na construção de identidades
multiculturais entre os moradores da cidade de Dourados-MS.
REFERÊNCIAS:
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Dourados: Grupo Literário Arandu, 2012a.
AMARILHA, Carlos Magno
Mieres. A Conquista do Brasil na
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60, pp. 5-24, maio-junho-julho, 2012b.
AMARILHA, Carlos Magno
Mieres (Org.), SILVA, Luciano Serafim da (Org.), COELHO, Nicanor Souza (Org.). Patrimônio Cultural de Mato Grosso do Sul:
Identidades e Memórias. Dourados-MS: Nicanor Coelho-Editor, 2008. v. 1,
160p.
AMARILHA, Carlos Magno
Mieres (Org.), SILVA, Luciano Serafim da (Org.). Mato Grosso do Sul: Poder,
Memórias e Poder.
Dourados-MS: Nicanor Coelho-Editor, 2008. v. 1, 160 p
AMARILHA, Carlos Magno
Mieres (Org.), SILVA, Luciano Serafim da (Org.), Vozes Guarany: histórias de vidas sul-mato-grossenses. Dourados:
Grupo Literário Arandu. 2010. 264p.
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Progresso: estratégias discursivas (1954, 1958 e 1962). Revista História em Reflexão: Vol. 5
n.10 – UFGD - Dourados jul/dez 2011. [pp. 1-16].
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2. ed. Campo Grande: Assembléia Legislativa de Mato Grosso do Sul, 1991.
CAPILÉ JUNIOR, João A
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fundador e sociedade autoritária. 4. ed. São Paulo: Perseu Abramo, 2001.
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[1] De acordo
com as cópias dos croquis apresentado pelo Sr. Pedro Gomes do Nascimento e aprovado pela Câmara Municipal do ano
de 1970. (cf. CREMONESE-ADMAO, 2010, p.
148).
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